31 maio 2013

O SIGNIFICADO DO DIA 05 DE JUNHO

A semana que inicia tem uma marca muito importante, além de despontar o último mês do primeiro semestre de 2013. No dia 5 de junho, próxima quarta-feira, o calendário marca o Dia Mundial do Meio Ambiente. Tomei o cuidado de não destacar que esse seja um dia comemorativo, pois é sabido que neste aspecto pouco se tem a comemorar, principalmente pelos absurdos que se vê na dilapidação dos recursos naturais em nome do consumo da era pós-moderna.

E para ressaltar esta data, quero trazer aqui um pequeno excerto de um personagem que para mim se tornou um ídolo, desde que pude aprofundar um pouco meu conhecimento a respeito de sua obra. Seu nome: José Antonio Lutzenberger. Lutz, como era conhecido, teve uma trajetória que deveria ser reverenciada onde se falar da questão ambiental, e principalmente em organizações e instituições onde se busca preservar o meio ambiente. Não vou aqui destacar sua vida em defesa da natureza, mas indicar uma leitura fantástica sobre a sua obra: o livro da jornalista Lilian Dreyer, “Sinfonia Inacabada”. Creio ser uma obra de leitura obrigatória a todos aqueles que militam pela causa ambiental.

A obra de Lilian Dreyer conta a trajetória
de José Lutzenberger
E todas as vezes que retomo a leitura dos textos de Lutzenberger fico convencido de que ele foi um homem alem de seu tempo, pois cada frase, cada reflexão, é passível de ultrapassar o tempo histórico, tornando-se sempre hodierno em nossa realidade.  

Pois bem! Lutz é autor de um artigo que se tornou famoso já na primeira vez que o utilizou na Universidad de Los Andes (www.uniandes.edu.co), na Colombia. Para mim, é um primor de construção, e que até hoje tem marcado minha visão a respeito dos vários aspectos da questão ambiental. Abaixo alguns parágrafos para deleite de meus leitores. Até no título esse texto foi de grande criatividade por parte de seu autor. Ele se chama “La bacanal del despilfarro”, e que traduzido para a língua portuguesa quer dizer “O Bacanal do Esbanjamento”.

Se a humanidade e a Civilização sobreviverem aos próximos 50 anos, os historiadores apontarão nossa época como talvez o momento mais anormal de toda a História do Homem e os biólogos considerarão este o momento mais crítico da longa História da Evolução Orgânica. Nunca antes o homem pôde comportar-se como hoje se comporta e nunca no futuro poderá repetir o atual delírio. O comportamento atual da humanidade pode comparar-se ao do pobre diabo que ganhou o grande prêmio na loteria e que, sem saber o que é capital e como preservá-lo, se encontra em plena bacanal de esbanjamento, seguro de que a festa não terá fim. A Sociedade de Consumo é uma orgia. Como tal ela não terá duração. O momento da verdade é inevitável. Estamos agindo hoje como se fôssemos a última geração e a única espécie que tem direito à vida.  Nossa ética que não abarca os demais seres, não inclui sequer os nossos filhos.

Nossa megalomania nos cega diante dos limites das coisas. Adoramos a quantidade pela quantidade e perdemos de vista os aspectos qualitativos. Com isto chegamos a uma perfeita inversão de alvos. A tecnologia, cuja verdadeira função seria a de escravo do homem, já se tornou seu soberano. Tão cegos e alienados estamos que aceitamos de bom grado esta escravidão. Um delegado brasileiro nas Nações Unidas, em discussão sobre a problemática demográfica, ilustrou acertadamente esta atitude ao afirmar que o Brasil necessita demais população e de maior densidade de população para, note-se bem, criar mercado para as indústrias de bens de consumo. Não mais a tecnologia para suprir as necessidades do homem, mas o homem para atender as necessidades da tecnologia.

Nos alimentos as proteínas, vitaminas e sais minerais
foram trocados pelos aditivos químicos 

A atual forma de sociedade industrial, para funcionar eficientemente, necessita ou crê necessitar de crescimento exponencial constante. Para manter este crescimento, utiliza um vasto aparelho publicitário, apoiado em uma maravilhosa tecnologia de comunicações em massa que, por sua vez, se serve dos mais sofisticados truques psicológicos para incutir-nos hábitos de consumo que só merecem o qualificativo de irresponsáveis, hábitos nunca vistos em sociedades anteriores e insustentáveis no futuro. Apelando à frivolidade, à vaidade e à ânsia de simbolizar status fictício, criam-se necessidades fúteis e artificiais que em nada contribuem para a verdadeira felicidade humana e que, muito ao contrário, estão na base de muita frustração desnecessária.

      [...]

A nossa alimentação, que bem mereceria ser tratada como coisa sagrada, é vista como simples matéria-prima a ser manipulada no interesse do manipulador, não do consumidor. Pela refinação tiramos do trigo o que de mais valioso tem, as proteínas, vitaminas e sais minerais e com “branqueadores”, “estabilizantes”, “antioxidantes”, “corantes” ou “aromatizantes” e “flavorizantes” sintéticos, damos ao pão, bolos e doces aspecto vendável. Aquelas poucas pessoas ainda conscientes do verdadeiro valor dos alimentos, que preferem o pão integral, conseguem evitar um perigo, mas incorrem noutro. O grão integral traz mais resíduos de pesticidas da lavoura e do silo. Normalmente estes resíduos saem no farelo e vêm nos atingir indiretamente através do porco, do ovo ou da galinha. A galinha e o porco, por sua vez, são encarados como meras máquinas de engorda. Sem falar na crueldade que significa o maltrato da gaiolinha, em que a ave nem as asas pode abrir, é bom que o público saiba que as rações “cientificamente balanceadas” para crescimento e produção máxima, já contem rotineiramente hormônios, antibióticos, arsenicais e corantes para uma gema bem amarela.
Para Lutzenberger, os frangos e suínos se tornaram
                máquinas de engorda

LUTZENBERGER, José Antonio. Fim do futuro: manifesto ecológico brasileiro. Porto Alegre: Editora Movimento, 1980. p.36 – 40.

Estes são simples excertos do texto de Lutzenberger. Quero destacar que possuo o conteúdo completo e posso colocá-lo à disposição para todos aqueles que se viram provocados ou atraídos por este “aperitivo”. É só me solicitarem.


Neste dia 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, José Lutzenberger, que através da AGAPAN, participou do primeiro movimento para evitar o corte de árvores no Parque Farroupilha, não poderia ser esquecido.

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Jairo,

nada mais justo e oportuno que neste dia 05 de junho ~~ Dia Mundial do Meio Ambiente ~~ se preste uma reverente homenagem a um dos pioneiros com o cuidado do Planeta entre nós: José Lutzenberger, como este teu blogue faz;
Cumprimentos por esta preciosa edição semanal.

attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com

Anônimo disse...

Bom dia Jairo, da uma olhadinha no seu e-mail.

Abçs, Roger