06 novembro 2011

A RESISTÊNCIA DA LEITURA

Uma das maiores dificuldades que o professor de Ensino Técnico enfrenta em sala de aula é a deficiência dos alunos e alunas na leitura e interpretação de texto. Esse é um passivo que recebemos do Ensino Básico e que temos de lidar, não muitas vezes como se tivéssemos um espírito malevolente em relação aos discentes. A intenção não é esta, mas a maioria das atividades de sala de aula prescinde da capacidade de alunos e alunas entenderem o que estão lendo. E o que ocorre com a maioria dos professores é um nivelamento geral, certas vezes fechando os olhos para esta cobrança.
 
É muito grande a resistência de ler um bom livro. A maioria das pessoas prefere jornais de circulação diária, que utilizam linguagem simplória e de pequenos jargões, e que pouco ou quase nada contribuem para o crescimento intelectual de alunos e alunas. Não quero aqui polemizar nem dar destaque a estes jornais, mas certamente eles mais deterioram o conhecimento das pessoas do que contribuem para um aprimoramento da leitura.

Quando pergunto em sala de aula sobre o hábito da leitura dos alunos e alunas, fico bastante decepcionado com as respostas. A maioria não possui o hábito e há mais de três anos não mantém contato com um livro, sómente com jornais ou revistas. O que todos relatam é que possuem o hábito de leitura na internet, o que convenhamos é um costume quase que geral e que não pode ser considerado para efeitos de aprendizado na interpretação de textos. Com excessão daquelas pessoas habituadas a vasculhar textos de qualidade na rede mundial e que já adquiriram o hábito com grande disciplina. E neste aspecto conheço muita gente que faz da internet sua biblioteca, mas não nossos alunos de cursos técnicos. Sem contar aqueles que passam horas e horas lendo e escrevendo mensagens nas redes sociais, numa alienação imensa e querem justificar isso como horas de leitura. Nao que eu seja contra as redes sociais, pois hoje elas são imprescindíveis e criam cada vez mais importância nas comunicações. Sou testemunha disso, pois utilizo-as inclusive para interagir com alunos e alunas e colegas de trabalho.  Entretanto, devemos nos cuidar para que não se tornem uma obsessão, como pessoas que deixam de se alimentar para acessar o facebook no horário de almoço.  

Aliás, a ausência da leitura é o fator que reside na grande incapacidade de muitos alunos de construírem um discurso plausível e necessário para se apresentarem em público. Por isso, uma enorme parcela deles possui dificuldade em criar proficencia para ministrar treinamentos, pois não se sentem seguros na hora do contato com o público ouvinte. A leitura cria um repertório de palavras para o orador, tornando-o mais versátil na construção do discurso e mais confiante quando faz uso da palavra. Também o aluno que lê com freqüência adquire maior capacidade de construir um pensamento, e isso se reflete nas respostas às questões de avaliações.

Nós professores, observamos já no primeiro dia de aula, quais são os alunos e alunas que já trazem de casa o hábito da leitura. Primeiramente, pela forma como se expressam e, depois pela confiança demonstrada ao se dirigirem tanto aos colegas quanto ao professor. Aqueles que não possuem o hábito da leitura, muitas vezes são tomados de pânico quando solicitados a falar em sala de aula. São eles que ocupam os lugares ao fundo da sala de aula e, raras vezes, fazem perguntas ou contribuem no espaço educativo. É claro que não se pode generalizar, mas a realidade é quase sempre a mesma. Também há aqueles que sentam no fundo da sala de aula para articular estratégias de se manter anônimo ou burlar a observação do professor. Não é esse o caso.           

Quando se observam os números de leitura em nível mundial, o brasileiro lê, em média 4,7 livros por ano, contra 10 nos EUA ou na França e 15 nos países nórdicos. Dos 4,7 livros lidos pelos brasileiros,apenas 0,9 não são livros didáticos. A Unesco ( Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) recomenda que haja uma livraria para cada 10 mil pessoas. No Brasil, com cerca de 200 milhões  de  habitantes, temos 2.700 livrarias, uma para cada 70 mil habitantes.

Para quem se sensibilizou com esta edição do Blog e que ainda não despertou para este importante hábito, recomendo iniciar com leituras amenas. Escolha um assunto que lhe traga interesse e adquira um livro de proporção reduzida. Anote a lápis já nas páginas iniciais, o dia e a hora em que iniciou a leitura da obra. Faça um compromisso com você mesmo, e dedique pelo menos meia hora de seu dia para ler algumas páginas. Leve o livro em sua bolsa ou pasta, e quando estiver em trânsito ou aguardando alguma coisa, saque o livro da bolsa ou da pasta e mantenha a leitura atualizada. Tenha sempre ao lado, quando possível, um dicionário. Na medida em que palavras desconhecidas surjam, veja o significado. Isso é fundamental para que você construa um bom repertório de palavras quando tiver de escrever ou falar. Se não tiver o dicionário à mão, sublinhe a palavra desconhecida para quando estiver em casa consultar o significado. Ah! Sublinhe também aquelas passagens que considerar mais interssantes, mas sempre à lápis, para não agredir o livro que posteriormente pode servir a outro leitor. Quando encerrar a leitura da obra, retorne à página onde anotou a data e horário de início e anote a data e horário de término. Isso lhe dará uma boa idéia de velocidade de leitura na medida em que a prática se tornar mais constante.

Você verá que, ao natural, muitas das palavras que você aprendeu nas leituras irão se incorporar ao seu discurso, sem que você perceba. Esta é a grande diferença de quem adquiriu o hábito da leitura e de quem resiste em aprender essa ferramenta importante na construção do conhecimento. 

Aliás, em plena semana de Feira do Livro de Porto Alegre fica a dica para visitar os estandes e com calma analisar os bons títulos disponíveis por lá. Você se surpreenderá com a quantidade de obras existentes e de pessoas que buscam neste hábito avançar na qualificação e aperfeiçoamento pessoal e profissional. Você será outra pessoa após se habituar a ler, pois o conhecimento proporciona liberdade e opinião própria sobre os fatos. É experimentar prá comprovar. 

4 comentários:

Thiago Chini disse...

Sábias palavras, Professor Jairo.
Nosso país peca, e muito, na questão cultural. As pessoas acreditam que cultura faz-se apenas com músicas ou roupas e acabam esquecendo que a leitura é necessária para a disseminação da cultura. Não podemos esquecer o mito do Gaúcho que surgiu de contos por Simões Lopes Neto. Bom, melhor não entrar em outras discussões...
Grande texto.

Thiago Chini Bender

Uilson Carvalho. disse...

Ótimo post Prof. Jairo!

Tenho orgulho em dizer que eu e minha família praticamos a leitura, as vezes com maior outras vezes com menor intensidade, mas nunca deixamos de estar acompanhados de um exemplar que nos leve à lugares desconhecidos ou em aventuras surreais, me fazendo rir atoa ou deixando uma lágrima rolar despercebida, trazendo conhecimento e informação nos desafiando cada vez que iniciamos um novo volume.

Gostaria de citar a grande ameaça que cerca o livro físico, falo sobre a tendência de migração para os E-books, sendo assim as livrarias como conhecemos hoje entrarão em processo de extinção, como no caso das duas maiores livrarias estadunidenses a Borders e a Barnes&Noble que sofreram um golpe fatal com a disseminação do E-Book.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,livrarias-dos-eua-lutam-para-sobreviver,688382,0.htm

http://www.guarulhosnoticias.com.br/portal/index.asp?InCdSecao=3&InCdEditoria=18&InCdMateria=3368&Escritores+apostam+em+e-books+para+ampliar+vendas+e+atrair+novos+leitores

Cristiano Cabral disse...

Belo texto Professor!
Sempre tive o hábito da leitura e um bom domínio das palavras,mas mesmo assim um grande pânico para falar em público.Grande abraço Professor!

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
o assunto desta blogada é relevante e caberiam extensas considerações. Eis umas poucos.
1) Não são apenas os alunos dos cursos técnicos que não tem o hábito de leitura. Universitários (mesmo da área das humanas) também não leem.
2) Dolorosamente, há que reconhecer que nós (ex-ratos de biblioteca) lemos menos, por causa da internet.
3) Os jovens de hoje quase não veem mais os adultos lendo.
4) Adiro a tua posição: leitura na internet não forma ‘habitués’ em leitura.
5) Na feira do Livro de Porto Alegre, nos caixotes de saldos, encontrei preciosidades por 5 ou 10 reais.
Parabéns por uma das mais sumarentas blogadas

attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com